Lucas Gama
Foto: Renato Alban (Labfoto/Facom) |
Na sua apresentação de hoje, no Ciclos de Jornalismo, você falou sobre os principais desafios do jornalismo cultural, nos dias atuais ( a demanda de cada veículo, o espaço limitado no jornal, esvaziamento da análise..). Quando você começou, quais eram os desafios?
O principal desafio de quem começa em alguma profissão é, principalmente, a pouca experiência, que se compensa com muita disposição e coragem. Na época que eu comecei, em 1993, o cinema brasileiro vivia um processo de estagnação e o cinema, como um todo, também não gozava de espaços generosos nos veículos impressos. A cada dia tentei trilhar o ofício da crítica com seriedade, comprometimento e consegui cavar espaços inéditos para um profissional baiano/nordestino. Assim me tornei o primeiro deste canto esquecido do Brasil a compor o conselho para escolha do representante brasileiro no Oscar e fiz parte de seleção de filmes para os principais eventos de cinema do país. A ausência de um predecessor com as características do que eu tento fazer, manter um diálogo nacional, viajando para os festivais e trazendo em primeira mão para cá informações, análises e referências foi um dificultador, tornou meu caminho um desafio, no qual eu precisei provar algum valor a cada dia, mas também tornou mais saborosa cada pequena conquista, até alcançar a visibilidade e o respeito em todo o país. Sem falsa modéstia, até porque me considero muito mais um sujeito determinado do que um tipo especial, conseguir pavimentar um outro parâmetro de comparação para o exercício da crítica e sobreviver com isso, do meu sacerdócio, do meu ofício, é uma realização que faz de mim um cara feliz.
Com a Internet, aparecem novos canais para o crítico e sua crítica, como é o caso dos blogs e das redes sociais. Quais possibilidades você vê e prevê para a crítica de cinema, neste cenário, que ainda está em construção?
Sou muito esperançoso quanto ao cenário atual, invisto pessoalmente e com dedicação na difusão da cinefilia, do pensamento crítico e acredito que a internet vai se tornar cada vez mais o espaço, por excelência, para o debate. Gosto deste momento de indefinição, tenho apetência por este caos de possibilidades e muita fé na crise como um movimento inevitável à renovação, cenário propício para as mudanças e novas oportunidades. Pessoalmente, uso as redes sociais para soltar provocações e ainda pretendo, mais à frente, gerir um espaço que venha congregar o pensamento crítico, uma redação virtual, que permita uma flexibilização do espaço da crítica, para além dos medalhões como eu (risos). Eu creio muito no jovem crítico, na ousadia e na acuidade de quem está chegando. Em 1993, na minha lista de fim de ano escolhi como melhor filme exibido em Salvador Cães de Aluguel (Reservoir Dogs) e disse que seu diretor, Quentin Tarantino, era um talento promissor... um medalhão teme fazer essas previsões, os jovens, não.
O que, de inovador, vem aparecendo na crítica de cinema, hoje? Você poderia nos citar alguns críticos ou veículos?
Na realização de cinema são tantas as novidades, que eu prefiro dizer que estamos vivendo um período de fertilidade e descobertas. Nunca tivemos acesso a tantas filmografias diferentes, realizadores dos quatro cantos do mundo, como estamos tendo agora. A viabilidade da troca dos filmes - até pela internet - dá acesso a tudo que se queira ver! É um sonho para alguém como eu, que era um jovem cinéfilo nos anos 1980 e saía da última sessão de cinema no extinto Teatro Maria Bethânia (atualmente uma churrascaria) sem saber se encontraria ônibus para casa ou dormiria na Estação da Lapa. É uma maravilha que ninguém mais precise fazer isto. No que se refere à crítica, acho que a internet também é a fonte mais promissora, os blogs pessoais são os pontos altos. Ler Luiz Zanin Oricchio e José Geraldo Couto, por exemplo, em seus espaços domésticos (dos blogs: http://blogs.estadao.com.br/luiz-zanin/ e http://blogdozegeraldocouto.folha.blog.uol.com.br/ ) é sempre uma delícia. Ter a reportagem em tempo real de Luiz Carlos Merten (http://blogs.estadao.com.br/luiz-carlos-merten/) e sua verve tão cheia de detalhes, confissões e inconfidências é outra coisa nada desprezível. Fora isto, temos revistas eletrônicas muito sérias como a Contracampo, a Cinética e a Filmes Polvo. Sem falar, que todo dia se descobre algum potencial crítico engatinhando na rede com a força agradável das melhores surpresas. Basta estar atento e olhar sem preconceito.