Simone Melo
Foto: Daniele Rodrigues (Labfoto/Facom) |
Quando questionado sobre o seu leitor, você disse que imaginava Messias, outro colega professor, sentado em um bar conversando contigo. A crítica literária tem fama de possuir um caráter hermético. A sua crítica também é assim, para pessoas com repertório próprio de doutores da academia?
Não. Quando eu escrevo para o jornal, eu sempre me preocupo em ter bem claro para mim, que eu não estou escrevendo para a academia ou prioritariamente para acadêmicos. Mas eu também pressuponho que eu não estou escrevendo para pessoas sem noção, são pessoas que lêem, ou que têm algum interesse não apenas em leitura, mas em comentários sobre a experiência da leitura. É isso que modula as minhas escolhas de vocabulário, o meu enderaçamento na crítica a partir de certos procedimentos de narração, exposição e argumentação. Não existe pessoa sem repertório, e se você chega a abrir um caderno de cultura, isso significa que você já tem um nível de letramento bem considerável. É isso que eu levo em consideração na hora de produzir os meus textos.
E o blog do pernambucano que você mencionou, que escreve críticas a partir de livros inventados. Você conseguiria definir que tipo de gênero ele estaria escrevendo nesse caso?
Na falta de melhor definição, eu diria que é ficção. É um pouco como Borges [Jorge Luis Borges, escritor argentino] quando fazia resenha de livros inexistentes e veiculava isso como contos. Então, acho que um alojamento possível para ele seria esse. Ah, esse cara está fazendo ficção, está inventando um jeito diferente de narrar. Mas há uma conexão muito explícita com a crítica, seus procedimentos. E eu acho que isso não deve estar muito distante do nosso jeito de observar a peculiaridade desse objeto, como o blog que o Bernardo Brayner produz, Livros que Você Precisa Ler. Acho importante salientar que a experiência dele como publicitário, diretor de arte em uma agência pernambucana, dão um matiz peculiar ao jeito como ele trata o objeto livro e o projeto de resenha que ele apresenta ali. Então, são todas essas coisas juntas que me fazem elencar esse blog como um espécie de invenção das possibilidades da crítica contemporânea.
Você poderia falar um pouco mais sobre a escola subjetivista norte- americana...
Basicamente existe uma crítica ao ideal epistemológico da objetividade, do alinhamento e do afastamento. Por essa via, uma certa tradição de críticos começa a operar enquanto críticos valorizando exatamente o contrário, a proximidade, a intimidade; e na fala de palavra melhor, as dimensões “subjetivas”da experiência de leitura. Há uma série de livros que já foram publicados coletando esse material, historicizando esse movimento. É uma tentaiva de criticar o ideal de objetividade como sendo o motor principal da crítica.