Foto: Daniele Rodrigues (Labfoto/Facom) |
Como você analisa o atual uso massivo da internet, servindo como facilitador da produção de publicação de opinião?
Essa democratização, essa horizontalidade que nós temos hoje na produção da cultura, eu acho absolutamente importante, porque você desloca, você libera o pólo de emissão. Você tem novos operadores no campo da cultura, que não estão necessariamente submetidos a uma estrutura formal,
administrativa, tradicional como conhecemos.
Você afirmou: "Hoje, a tecnologia de compartilhamento redefiniu todos os processos: da relação do artista com o público, da economia da música online, etc.". Eu perguntaria como a crítica cultural pode mediar essa nova relação entre o artista e o público, o público e o consumo?
Acho que o desafio, na verdade, agora é muito maior, porque a cultura contemporânea se apresenta de forma tão reticular, que são inúmeras as possibilidades de experiência. Então, ela assume uma tarefa, ao mesmo tempo desafiadora, mas muito arriscada diante dessa multivocalidade. O crítico hoje, talvez tenha uma ingerência menor em relação ao seu público, em função dos inúmeros atores desse processo, mas continua aí o elemento mais importante da crítica; quer dizer, e aí sim, que ele é exigido e mais requisitado na sua qualidade, na sua capacidade de leitura de mundo, leitura da obra de arte. Ou seja, sua qualificação é mais exigida nesse momento. Então, o desafio é como estabelecer processos individuais de qualificação da leitura dessas obras.
Quais dicas você daria a estudantes que aspirem trabalhar com jornalismo cultural?
Eu acho que, primeiro, a questão de formulação do repertório é absolutamente importante. Claro que você não precisa cair na angústia, na ansiedade de informação, que parece ser natural hoje; mas é preciso um certo critério na construção do seu repertório. Então, você tem mediadores importantes como formadores de opinião que devem ser lidos sempre com uma certa desconfiança; oferecendo a mão, se oferecendo de maneira aberta a novas possibilidades. Eu acho que o jornalismo cultural acabou virando um horizonte sofisticado, para pessoas que não querem trabalhar em certas áreas, poque o entendem como uma áres mais nobre, uma área em que se tem todo um *hype* no seu entorno. Você vai ser convidado pra festas, espetáculos, vai viajar muito. Mas, ao mesmo tempo, eu acho que é um campo extremamente desafiador, como eu citei, tamanha a sua necessidade de atualização, de compreensão da cultura na contemporaneidade. Não é uma tarefa fácil, e também, não é uma tarefa superficial. Penso que a cultura contemporânea estabeleça para agente grandes horizontes em termos de conhecimento e, sem dúvida alguma, o jornalismo cultural passa por um momento de dispersão e de requalificação. Quem puder se colocar de forma mais estratégica nesse cenário obterá maior sucesso na produção da crítica.