Ingrid Medina
Nelson Barros, gerente de Comunicação do Esporte Clube Bahia, atuou como repórter e correspondente da Folha de S. Paulo e como redator no portal R7.
Trabalhar fora da Bahia foi sempre uma aspiração para você?
Eu nunca tive esse sonho de trabalhar fora da Bahia. Sempre achei que tinha que ficar aqui mesmo. Só que as coisas na minha vida foram acontecendo naturalmente. Eu sei que tem muita gente que sonha[em sair], até mesmo pelas dificuldades do mercado local, que infelizmente está cada vez pior. Eu já trabalhava no jornal A Tarde e estava satisfeito. Fui fazer uma cobertura em São Paulo e acabei recebendo um convite, devido à indicação de uma amiga, para trabalhar no site R7. A chefa da empresa gostou de mim, não sei se ela gostava de baianos. Nem pensei em aceitar, mas depois de conversar com amigos e minha família acabei aceitando. Não foi uma vontade de sempre, como você perguntou, mas foi muito válido para mim. Eu gostei muito.
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Como era sua experiência lá? Você sentia muita diferença em trabalhar no portal R7 e aqui?
Só para complementar eu também trabalhei na Folha de S. Paulo, onde fiquei por um maior período. Eu trabalhei uns três meses no R7 e depois saí porque preferi. Acho que basicamente a principal diferença é que quando você chega lá tem que recomeçar do zero. Mais um baiano que chegou. Pode ser olhado com um certo preconceito: “Tá roubando uma vaga de paulista”, coisas assim. É difícil por isso, porque todo o esforço que você fez “vai em vão”, claro que não é em vão porque você acumula experiências, mas tem que fazer tudo de novo lá, mostrar seu potencial. Não adianta dizer que você era maravilhoso em Salvador porque eles só vão confiar no trabalho que desempenhar com eles.
Você queria sair da Folha para virar gerente de comunicação do Bahia?
Na verdade, não foi exatamente assim. “Não sou eu que me navego, quem me navega é o mar”, ou então aquela música de Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar”. Tudo aconteceu. Minha volta para Salvador já foi na situação de correspondente, uniu o útil ao agradável, porque eu voltei para ficar com a família trabalhando para a Folha de S. Paulo, que é um jornal importante. Mas não foi algo pensado. Surgiu uma vaga e aconteceu de eu ir para o Bahia. O clube sofreu uma revolução democrática e era algo pelo qual eu sempre batalhava. Sempre fui torcedor fanático. Militei denunciando as coisas que aconteciam de erradas e tudo o que eu queria e sonhava se tornou realidade. Por isso, quando me fizeram esse convite foi mais cativante, o que me surpreendeu muito. Os que conhecem a minha face tricolor acham que eu nasci para isso. Mas, na verdade, eu não concordo. Os que não me conhecem dizem que eu sou maluco por abandonar a Folha de S. Paulo para ir para o clube. Na verdade eu não dirigi minha carreira, só aconteceu.
Quais foram as experiências como correspondente que mais você guarda?
Difícil essa pergunta. Embora eu não tenha ficado tanto tempo como correspondente, eu digo que meu horário de trabalho era do acordar ao dormir. Por exemplo, na véspera de uma eleição municipal em 2012, teve um apagão no final de semana e já tinha trabalhado o dia todo. Surgiu esse blackout de madrugada, uma coisa interessante para a Folha de S. Paulo e eu tinha que ficar apurando de madrugada mesmo. Eu sou apaixonado pelo jornalismo, apesar de tudo o que existe. Eu fazia na maior boa vontade, não achava ruim não. Eu lembro a primeira manchete que consegui fazer com outros colegas correspondentes sobre o interior da Bahia. Cobria situações completamente diferentes do que fazia em São Paulo. Outra coisa legal de correspondente: eu podia cobrir desde a vinda da presidente Dilma até a gravação da microssérie Canto da Sereia, com Ísis Valverde. Eu fazia de tudo, de economia a cultura. Isso era muito legal. Eu sempre gostei. As pessoas acham que o pessoal de esporte só pensa em futebol. Alguns colegas são assim mesmo, mas eu nunca fui assim. Então, era bacana essa possibilidade de mexer com muita coisa ao mesmo tempo.
Para quem aspira ser correspondente ou ir para fora, qual seu maior conselho?
Eu tenho muitos amigos baianos jornalistas em São Paulo, me sentia em casa. Tem até uma galera que fala “máfia do dendê”. Para quem quer sair, eu acho que o mais importante de tudo é você trabalhar forte, duro, se empenhar muito mesmo. Não tem como achar que as coisas vão acontecer do nada. Você tem que dar o seu melhor, ir construindo uma carreira forte aqui para quando chegar lá ser mais fácil. Se você pensa em ir antecipadamente, digamos assim, está querendo ir de qualquer jeito, acho que tem que tentar. Antes de ir, é importante fazer contatos, talvez com amigos que possam ajudar. Tem muita questão de indicação. Acho que quem escolheu jornalismo escolheu sabendo que é difícil. É um campo de saber muito romantizado apesar de tudo. Tem muito daquela visão do jornalista fumando, com a máquina de datilografar, com matéria no lixo. Muita coisa desse romantismo é uma metáfora. As coisas continuam difíceis. Você tem que ir junto com essa visão do sonho e do mundo glamoroso, mas batalhar muito.
Como você vê a importância de eventos como o Ciclos do Jornalismo para os estudantes?
Eu acho muito importante. Eu, ex-faconiano, estou aqui feliz da vida por estar de volta à Facom matando a saudade. Eu lembro que logo no início da minha faculdade, no primeiro semestre, houve um evento parecido, com jornalistas mais experientes e isso me marcou muito. Eu entrei aqui no auditório, com algumas melhorias claro, mas o mesmo lugar. Fiquei lembrando daquele dia que gente como Zezão Castro, um jornalista conhecido aqui da Bahia, falou sobre como era a vida na redação. Então eu acho fundamental. Tem que acontecer com frequência.