Marina Bastos
André Uzêda, editor do portal Aratu Online e mestrando do Programa de Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA, trabalhou como correspondente da Folha de S. Paulo no Ceará.
Qual a importância de eventos como esse do ciclos de jornalismo, onde o aluno pode ter contato com jornalista atuantes?
André Uzêda - Eu acho que é fundamental ter esse tipo de evento. A gente tem esse arcabouço teórico, mas precisa também saber como é o jornalismo na prática mesmo. Na minha época na Facom eu sempre tinha essa preocupação e eventos como este são bons porque aproximam as pessoas que estão no mercado e o estudante. Você tem uma realidade aproximada do que vai viver. Eu acho que esse evento é justamente para isso, dar uma luz ao estudante para que ele possa saber o que acontece na redação, como é o trabalho, se ele vai querer seguir mesmo isso, essa vida cheia de dificuldades.
Ouvir áudio:
Você também já trabalhou como correspondente da Folha, no Ceará. Como foi essa experiencia e como funciona o jornalismo da Folha de S. Paulo comparado com o da Bahia?
A maior diferença que eu percebo, fora essas questões organizacionais das empresas, era o incentivo à reportagem. Então, por exemplo, eu estava no Ceará e acontecia uma coisa grave no Piauí, no mesmo dia eles me mandavam cobrir. Uma coisa que eu me incomodo aqui em Salvador é a falta desse incentivo. Acontece uma coisa, por exemplo, em Paripe e, às vezes, você manda o repórter cobrir do telefone. É uma realidade próxima, a gente tem que ir lá fazer, o jornalista tem que estar no fato e não cobrir só por intermédio. Acontece de, por alguma necessidade, usar o telefone, mas alguns acontecimentos, você tem que estar presente. Então, uma coisa que eu achava muito positiva na cobertura da Folha era o incentivo na reportagem. Isso ajuda a moldar o jornalista de uma forma diferente e o veículo ganha muito com esse incentivo. Eu acho que é uma coisa que aqui, por questão de estrutura, isso precisa se desenvolver bastante.
Ouvir áudio:
Como essa oportunidade de trabalhar na Folha surgiu?
Eu recebi um convite. Eu estava trabalhando no A tarde e fiz uma cobertura do que acabou sendo o impeachment do presidente do Bahia. Ela ganhou muito destaque e acabou chegando em São Paulo. Nessa mesma época, eu fiz a cobertura da copa das confederações, viajei cobrindo a seleção brasileira. Eles viram meu trabalho e quando abriu essa vaga no Ceará eu fui convidado a ir. Foi muito bom como crescimento. O jornalismo tem essa grande qualidade, o seu trabalho destacado se torna visível, se você se destaca, isso desperta o interesse do mercado.
Qual foi o maior desafio ao ingressar na Folha? Quais as maiores diferenças?
Têm umas coisas chatinhas na Folha, tem um manual de redação que você tem que seguir, então é um texto pouco livre. Eu trabalhava na editoria de esporte que, geralmente, é um texto muito mais criativo, mas na Folha você segue muito mais aquele manual de redação. Também tem a questão afetiva de você sair de sua cidade, morar longe, essas coisas que você tem que superar de alguma forma. Além de uma cobrança maior. Eu lembro que a Folha criava um placar entre os correspondentes, quem dava mais furo, quem dava mais matéria original, quem errava menos, eles estipulavam essa concorrência para saber quem estava se destacando mais. Essa era uma realidade que eu nunca tinha vivido aqui, mas você tem que se adaptar, tem que fazer. O jornalismo é o mesmo, mas acho que é uma coisa ampliada, uma cobertura maior, com essas cobranças. Aprendendo a fazer não tem mistério, é jornalismo em qualquer lugar.
Quais foram os aprendizados mais importantes ao trabalhar na Folha e como você os trouxe para o seu trabalho atual na TV Aratu?
Isso de incentivar a reportagem. Eu coordeno o site hoje e sempre falo para os repórteres, não fiquem na redação, não fiquem esperando que eu paute vocês, que eu fale para vocês fazerem isso e aquilo. O trabalho de correspondente era muito isso, o editor te deixava solto, mas você tinha que entregar matéria, você tinha que trazer resultados, você que tinha que ler os outros jornais e olhar diário oficial para trazer reportagem. Eu tento estimular isso de ser proativo, buscar as informações. Eu dou uma liberdade para fazer as matérias, mas os repórteres têm que buscar. Então, é um pouco dessa vivencia que eu tive e tento incentivar que eles façam.